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História da Raça

O Cane Corso é uma raça italiana milenar, constituída de diversas linhas de sangue presentes em todo o Sul da Itália, formando um patrimônio genético e cultural muito apreciado e utilizado desde seus primórdios no Coliseu Romano e ao longo dos séculos, como fiel auxiliar do ser humano, em período de paz ou guerra, de fartura ou miséria, sempre fiel ao seu dever, motivo pelo qual artistas e escritores o imortalizaram na arte e literatura italiana. 
Em 1835, um estudo realizado pela faculdade de Nápoles catalogando a Fauna Italiana, descreveu esse molosso com os nomes: Corso ou Mastim, como sendo uma única e mesma raça. Por essa razão utilizamos os termos histórico e tradicional ao nos referirmos ao cane corso que selecionamos, dois termos que enchem de significado o caminho que almejamos para nosso trabalho e ainda para diferenciar da seleção moderna e desconfigurada.
Nesse período do século XVIII a cinofilia oficial moderna apenas iniciava suas atividades e o mundo começava a adotar o método inglês de criar cães presos em gaiolas como se fossem galinhas, definindo o conceito de raça ao sistema oficial adotado através da utilização de um padrão elaborado com metodologia cientifica duvidosa, na verdade, um standard teórico descritivo construído de modo arbitrário e como um ideal inatingível. Essa metodologia que não concebe princípios acadêmicos gera problemas de desconfiguração genética ao potencializar o inbreeding e a recessividade. Este empobrecimento genético é responsável por problemas que podem inclusive extinguir toda uma espécie ou raça pois ao idealizar produzir indivíduos iguais e homogêneos, como fotocópias baseadas em um standard de raça, os prejuízos à longo prazo são inevitáveis. 
O molosso italiano, ao contrário, carregava em seu sangue um inestimável patrimonio genético, tendo sua morfologia duas tipologias básicas e batizado com diferentes nomes de acordo com a região ou função que desempenhava. Na Puglia era chamado de Cane da Masseria, na Calábria era chamado de Con’ Huss ou no dialeto calabrês Corsu Napoletanu ou ainda ‘U Mastino. Em Molise e Abruzzo era chamado de Cors’. Em Nápoles se denominava Cane è Pres. Na Basilicata era chamado Cane Corsicano. Na Sicília era chamado Vucciurisco Siciliano.
Em 1949, pelo trabalho do escritor suíço Piero Scanziane o molosso italiano foi pela primeira vez oficializado recebendo o nome Mastim Napolitano. Este permanece intacto até meados dos anos 1980 quando então começa a percorrer uma estrada equivocada, chegando aos nossos dias exemplares com excessivas rugas, olhos demasiadamente caídos e lábios muito pendentes, características jamais existentes no passado.
Nesse mesmo período em que o mastim napolitano já se desencostava da tipologia histórica e tradicional, uma raça alemã despontava com enorme visibilidade a nível mundial, o Boxer. Criar uma estratégia para morder um nicho desse mercado seria muito interessante. Nesse cenário surge a chamada ‘Recuperação’ do cane corso, uma raça que se dizia estar extinta.
Porém é importante lembrar que o cane corso não estava extinto. Documentos mostram que na década de 60 existiam mais de 30000 mil masserias e casas coloniais em todo o Sul da Itália e imaginando que 1% dessas masserias tivessem apenas um exemplar da raça e estaríamos longe de falar em extinção.
Esse período da recuperação do cane corso nos anos 70 a 90 foi marcado por inúmeras discórdias dos criadores italianos entre si e com o clube de raça. Pedigrees foram forjados sobre a mesa para se criar uma falsa genealogia e fazer passar corsos misturados com raças estranhas como autênticos corsos prognatas. Relatos desse período citam que criavam o cane corso como se montassem o Lego, uma parte de bourdeaux, duas partes de boxer, uma de  bullmastif e assim surgiam "corsos" prognatas que eram levados para às exposições de beleza e se tornavam famosos e procurados padreadores. 
Toda essa bagunça e manipulação de um patrimônio genético que merecia melhor sorte acabou tendo um alto custo, a Justiça Italiana após receber diversas denúncias deflagrou uma operação resultando com a perda da tutela da raça por parte da SACC ( Sociedade Amadora Cane Corso). Assim, a SACC se tornou em 1999, a única entidade em todo o mundo a perder a tutela da raça, vergonhosamente três anos após seu reconhecimento oficial junto à FCI ( Federação Cinológica Internacional).
Nesse ano de 1999, vários nomes importantes da cinofilia italiana já haviam deixado a SACC, profissionais capacitados que nunca compactuaram com tal trabalho, quando perceberam os reais objetivos da SACC se despediram e foram procurar pessoas sérias para trabalhar. Dentre esses nomes, citamos o Dr Flavio Bruno (veterinário), Dr Scimon Goldman ( veterinário), Dr Danilo Mainardi (etólogo), Dra Valeria Rossi (bióloga) , Dr Paolo Breber (biólogo) dentre outros. 
Recuperar o estrago feito é um trabalho difícil e árduo, demanda tanto tempo e esforço, pois para aqueles que como nós admiram e amam o cane corso histórico e tradicional não resta muita alternativa a não ser ignorar os erros da seleção moderna e buscar uma genética que possa contribuir para fixar as corretas características do cane corso histórico e tradicional.  
Orientar-se neste panorama para um iniciante é decididamente difícil, no entanto a raça continua a agradar e ter uma altíssima quantidade de admiradores, pois não obstante, o fascínio pelo Antigo Molosso não acaba jamais.

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